Disco perdido de Júpiter Apple é lançado nos serviços de Streaming

Flávio Basso | Foto: André Peniche

A discografia que Flávio Basso (Jupiter Maçã/Apple) registrou oficialmente é minúscula diante de tantos trabalhos incompletos, abandonados, engavetados e esquecidos. Sabe-se por exemplo que pelo menos um álbum inteiro está gravado, esperando finalização em poder de Ray-Z, outro em poder de Lucas Hanke, sem falar das gravações que ele apresentou na RádioAtividade em 1994, antes mesmo de virar Júpiter Maçã. Flávio, que partiu para o plano espiritual há mais de cinco anos, não viu toda a sua obra ganhar vida. Talvez nem a gente a veja. Esporadicamente surgem registros perdidos de sua genialidade. Circula no YouTube, há tempos, canções perdidas como: "Welcome to You" (também conhecida como "Pictures of them instead"), "Open Letters", "Diggin Down", "Brazilian Vodoo" e trechos de canções conhecidas como "Rio de Janeiro again blues", "Six colours frensi", "Cerebral Sex" e etc...

Segundo os conhecidos, Flávio era um artista complicado. O exemplo veio logo cedo, quando após o lançamento do álbum "A Sétima Efervescência" (lançado pelo Selo Antídoto, da Gravadora ACIT), o artista que surfava numa onda psicodélica e cantando em português, muda drasticamente seu som, pega um banquinho e um violão e parte para uma nova leva de canções, influenciado pela bossa nova e cantando em inglês! Acabou deixando de lado canções brilhantes como "Aquarianas da Rua 20", "Cartas de Playground" e "Desconstruções do Acaso", cujas versões demo conhecidas nunca foram registradas oficialmente em disco. Durante as gravações de Plastic Soda (lançado pela Trama), inclusive, dispensa a banda que o acompanhava (Júlio Cascaes e Marcelo Gross) e decide terminar o álbum sozinho!

Na virada do século lança "Hisscivilization" (lançado pela inglesa Voiceprint), claramente inspirado no som do grupo franco-britânico Stereolab. Seu álbum mais obscuro. Volta a cantar em português, excelentes canções que compõem o álbum "Uma tarde na fruteira" (lançado em duas versões: a primeira pela Elephant Records, da Espanha e a segunda pela Monstro Discos/Marquise51) e surpreende a todos com um álbum (segundo ele, gravado bêbado) chamado "Bitter" (cantando com Bibmo e lançado pela Monstro Discos). Note que os cinco álbuns são completamente diferentes um do outro! Quer prova maior de que Flávio era um camaleão? Durante sua passagem pela Terra, contou com a ajuda de inúmeros amigos e parceiros, foram eles os responsáveis por sua obra ganhar vida! Se dependesse somente de Flávio, talvez nenhum destes discos teria ganhado um lançamento oficial (?). Difícil saber agora!

Flávio também aventurou-se no cinema. Dirigiu e atuou em alguns filmes experimentais, como o cultuado "The Apartment Jazz" de (2001), juntamente com Tatá Aeroplano. O filme chegou a ser exibido pela MTV, em partes e está disponível no YouTube em baixa qualidade. Eis que... hoje (11/03/2021) André Peniche, diretor do clipe de "Modern Kid" (mais um dos amigos e parceiros de Flávio citado anteriormente), que guardava consigo uma cópia (talvez a única) da trilha sonora do filme que Flávio compôs e gravou ainda em 1999, anunciou o lançamento do álbum perdido. Lançado apenas nos serviços de streaming, o álbum contém nove canções sem nome, batizadas apenas pela sigla do filme (AJ) e numeradas. São canções instrumentais que escancaram a qualidade do músico, que domina por completo os instrumentos e noções de composição em diferentes estilos (seja jazz, eletrônico, rock, psicodelia). Não há informações sobre as gravações, é possível que Flávio tenha gravado o álbum sozinho. Também não sabe-se sobre a parte gráfica, como sabemos Flávio também arriscava uns desenhos, é possível também que a capa seja sua criação. Um lançamento físico é esperado para um futuro próximo. Por enquanto, podemos ouvir a obra no Spotify:


O filme inclusive, também será lançado oficialmente no YouTube, na íntegra, no dia 11 de Abril. Em qualidade 4K! E pode ser assistido neste link direto do canal do André Peniche:


A obra de Flávio segue sendo revisitada. Com todo aval da mãe de Flávio, Dona Iara, detentora do Espólio de Júpiter Maçã, Egisto dal Santo segue batalhando na linha de frente em busca desse objetivo. Enfrentando tudo e todos, sem um pila no bolso sequer, ambos estão nessa por amor ao Flávio e sua obra! Desde então já foram relançados em vinil "A sétima efervescência" (Monstro Discos) e as duas versões de "Uma tarde na fruteira" (Monstro Discos/Psyco BR). Com ajuda de André Peniche, a obra está sendo disponibilizada digitalmente também. Recentemente uma nova versão do single "Modern Kid" entrou nos serviços de streaming, incluindo duas versões demo, até então desconhecidas. Hoje saiu a trilha sonora de "The Apartment Jazz", em abril sai o filme completo no YouTube. Peniche também havia disponibilizado a versão em cores do clipe de "Modern Kid" (rejeitada na época por Flávio), em comemoração aos dez anos do lançamento. Sem apoio financeiro e totalmente por amor a camisa, às vezes tirando dinheiro do próprio bolso. É preciso ressaltar a importância que ambos estão tendo nesse momento! Em breve novos lançamentos estão por vir! Obrigado!

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