Marcelo Gross: A história por trás das canções

Gross foi um dos fundadores da Cachorro Grande | Foto: Bruna Benedix
Em tempos de pandemia, o mundo artístico foi o que mais sofreu. Com shows cancelados, bares e casas de shows fechados, os artistas recorreram (e muito) às redes sociais para manter o contato com o seu público. Marcelo Gross, que vive atualmente em São Paulo, esteve isolado na casa de sua mãe, em Canoas/RS, foi um dos artistas que mais usou o Instagram para se manter na ativa, com suas "Love Lives" que ocorriam de segunda à sexta, sempre a partir da meia noite e nos sábados também as 19 horas no seu canal do Youtube. A trilha sonora era feita a partir de sua coleção de vinil, muitas vezes contando a história do álbum e suas músicas. Durante as lives, criada especialmente para os "madrugadeiros", Gross tocava canções autorais e dava dicas de livros e filmes. "O pessoal abria um vinho, pegava alguma coisa pra comer e ficava assistindo", disse Gross em entrevista recente. O cantor inclusive lançou uma campanha de financiamento, voltada para seu público das lives. Os fãs podiam contribuir comprando um ingresso virtual e dependendo do valor, até podiam receber um agradecimento exclusivo ou escolher uma música para ser executada na live.

A pandemia colocou por água abaixo a previsão de lançamento de seu novo álbum, Tempo Louco. Mas, Gross não passou batido por 2020 e durante o ano lançou três singles: A dança das almas, Carnaval e Lágrimas. Carnaval, inclusive, saiu com um clipe filmado no Carnaval de Rua de SP e no Bar Papo, Pinga e Petisco, no dia 1º de Março de 2020. Alexandre Papel e Eduardo Barreto acompanham Gross nessa sua nova fase Power Trio. Pedro Pelotas, ex-Cachorro Grande, também mantêm proximidade com Gross, fazendo várias participações. As três canções são extremamente fodas! Gross é um roqueiros mais conceituados do país ultimamente e sua mistura de rock clássico e britânico é sensacional. E falando em música, no seu Instagram, Gross começou a contar a história por trás de suas principais canções, começando por Lunático:

LUNÁTICO - CACHORRO GRANDE (2001)
Começando pela primeira canção "decente" que fiz. Ela tem uma clara influência do Pete Townshed no Riff de Guitarra de abertura e nos acordes da estrofe. A melodia veio depois de eu muito ouvir um disco do T.Rex gravado na BBC em que o Marc Bolan cantava lêem cima, em um tom bem alto. A inspiração da letra veio depois que li uma história em que o Syd Barret (“the lunatic is on the grass”) trancou a namorada dele no quarto e passava bolachas por debaixo da porta pra ela não morrer de fome (haha, pocoloco). A letra também fala de um sentimento rebelde do tipo vou-tacar-o-foda-se/ninguém-tem-nada-a-ver-com-isso... Fiz uma demo caseira em fita K7 no meu gravador de 4 canais Fostex X14 e mostrei pros guris da Cachorro Grande, que curtiram na hora, e ela logo entrou pro repertório, que na época incluía poucas canções próprias ainda. Na gravação, além da guitarra, toquei um baixo com Fuzz que já fazia parte do arranjo original da demo e que deixava a música com mais cara de The Who do que ela já tinha. Era uma ótima abertura para os shows da época e acabou sendo uma boa abertura para o álbum de estreia. Ganhou um clip, nosso terceiro, dirigido pelo amigo Marcelo Nunes, que era basicamente a banda fazendo uma performance da música vestidos de terno branco com fundo preto e vice versa, em P&B. Lembro de a gente esperando a tinta secar depois de ter pintado o estúdio de preto para poder filmar. O clip tocou bastante na MTV na época, ajudando na projeção da banda fora do nosso estado natal e concorreu no VMB de 2002, levando a gente pela primeira vez na premiação/cerimônia/festa, que era uma loucura. Acabou se tornado uma canção que nunca saiu do repertório da banda, passando com o tempo a fechar os shows. E ela continua presente até hoje nas minhas apresentações, tenho muito orgulho dela e da projeção que ela proporcionou para a banda, meio que definindo o estilo de som da Cachorro Grande.

QUE LOUCURA - CACHORRO GRANDE (2004)
Nessa época eu morava no Bairro Bom Fim em Porto Alegre e na dispensa improvisei um estúdio caseiro com meu gravador multitrack Fostex X14 de fita K7. Lá esbocei muitas das canções que fizeram parte do segundo álbum “As próximas horas serão muito boas”. Muitas vezes pegava acordes de uma música que eu tinha acabado conhecer e gostava muito, embaralhava e acabava saindo outra coisa. Nesse caso eu estava brincando com os acordes de uma música da banda The Zombies, chamada “Kind of Girl”. Logo veio na cabeça outra melodia por cima , e em seguida os acordes do refrão que eram diferentes. Outra música que eu estava ouvindo direto era “Going Back do The Byrds que em certo momento falava “A Magic carpet ride ... “ eu estava com essa frase há dias na cabeça, achava a imagem linda, daí veio “em cima de um tapete que flutua por aí...” que levou a “dentro de uma bolha que flutua por aí...”. Tinha também uma frase com uma conotação mais apimentada, porém só quem viveu os anos 80 sacou, época em que a expressão “Balão mágico” tinha um duplo sentido, daí a frase “vem comigo voar no meu balão...”. Na intro eu quis fazer algo que soasse como Supersonic, apenas com a bateria e guitarra. No solo, como costumo fazer , quis botar outro tema, como se fosse outra música dentro da música. Demo pronta, mostrei pros guris e já rolou no ensaio seguinte, na saudosa Funhouse, o casarão onde a Cachorro Grande ensaiava. Aproveitamos pra fazer uma demo com a banda num gravador de rolo que estava passando uns dias lá, e acabamos achando espaço numa fita em que uma turma de amigas tinha gravado o ensaio pra um Sarau erótico que rolava na Funhouse. Era engraçado porquê quando acabava a música vinha a gravação de uma amiga nossa recitando um poema pra lá de picante e a gente dava muita risada. A música foi gravada, também em rolo, no estúdio Bafo de Bira dos amigos da Acústicos & Valvulados. O clip do Marcelo Nunes rodou bastante na MTV e concorreu ao VMB de 2004, sendo mais uma canção que nunca saiu do repertório, com a galera sempre cantando o refrão junto: “isso é uma loucura, tchururutchutchutchu...”.

Aqui apenas transcrevemos a história contada pelo Gross no Instagram, mantendo a grafia quase que original, somente substituindo as abreviações por palavras completas e as marcações pelos nomes verdadeiros. Então, foi que parecia que o Gross tinha embalado e que ia contar suas histórias semanalmente, porém ele parou logo na segunda. Tomara que ele volte a revelar essas curiosidades e se pintar novas histórias, atualizaremos essa postagem! Valeu Gross!!

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